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J000h Jung, O Homem e Seus Símbolos




index do verbete

B CHEGANDO AO INCONSCIENTE (POR C. G. JUNG)

1 1.A. A importância dos sonhos.


2 O homem nunca percebe claramente uma coisa ou a entende por completo. Sua percepção é limitada pela força dos sentidos, e há aspectos inconscientes na percepção ou realidade. Tudo que os sentidos captam é transposto para a mente e se torna acontecimento psíquico (p.21].

3 A natureza do fenômeno psíquico é desconhecida porque a psique não pode conhecer sua própria substância.

4 Certos acontecimentos são absorvidos subliminarmente sem nosso conhecimento consciente.

5 Resgatar esses conteúdos depende intuição ou do brotar espontâneo, no sonho, por exemplo (p.23].

6 “A consciência é uma aquisição muito recente da natureza e ainda está num estágio ‘experimental’. É frágil, sujeita a ameaças de perigos específicos e facilmente danificável” (p.24]. Ameaça fragmentar-se muito facilmente sobre o assalto de emoções incontidas.

7 A capacidade de fragmentação da consciência é valiosa porque permite-nos concentrar numa coisa de cada vez, isolando nossa mente.

8 Mas se isso acontece espontaneamente sem nosso conhecimento há a ‘perda da alma’, neurose (p.25].

9 Os sintomas neuróticos têm uma significação simbólica, tal como os sonhos: São modos de expressão do inconsciente.

10 Não é preciso usar o sonho como ponto de partida da livre associação para descobrir complexos. Qualquer outro ponto de partida serve, como associações de palavras.

11 Complexos: pontos sensíveis da psique que reagem mais rapidamente aos estímulos.

12 Os sonhos têm função própria mais e especial. Expressa o que de específico ou inconsciente quer dizer. O objetivo de estudar o sonho é entender a organização psíquica da personalidade global.

13 Não basta saber que um símbolo é uma alegoria sexual. Interessa saber porque esse símbolo em especial (a chave, o aríete, a espada) foi escolhido para representar a idéia.

14 Anima, o elemento feminino que há em todo homem.

1.B. O passado e o futuro do inconsciente.


15 “Como observou Nietzche, quando orgulho está em causa a Memória prefere ceder”.

16 Entre as recordações perdidas, estão em estado subliminar por causa de uma origem desagradável, conteúdos recalcados (p.36].

17 Mas o inconsciente não é só um depósito do passado, está também cheio de germes de idéias na e de situações psíquico futuras, pensamentos que nunca foram conscientes (p.37].

18 ”A capacidade de alcançar um meio particularmente rico deste material e transformá-lo de maneira eficaz em filosofia, em literatura, em música ou em descobertas científicas é o que comumente chamamos genialidade“ (p.38].

19 “Assim, as idéias contidas nos sonhos não podem ser explicadas apenas em termos de memória; expressam pensamentos novos que ainda não chegaram ao o limiar da consciência (p.38].

3 1.C. A função dos sonhos.


20 17. Os conteúdos da consciência têm associações psíquicos próprias, meios-tons psíquicos inconsciente que dão colorido a idéia, e que diferem de pessoa para pessoa. Cada palavra, até um conceito matemático, é um acontecimento psíquico e, pois, parcialmente desconhecido. Há aspectos subliminares em tudo que nos acontece; raízes quase invisíveis dos nossos pensamentos conscientes surgem nos sonhos.

21 18. As imagens dos sonhos são mais vigorosas que imagens similares quando estamos acordados, porque no sonho tais conceitos expressam seu sentido inconsciente (p.43].

22 19. Não há disfarce na linguagem do sonho, mas nossa dificuldade em captar o conteúdo emocional das imagens.

23 20. No mundo primitivo as coisas não têm fronteiras rígidas, há identidade psíquica – participação mística – entre o homem e tudo. E isso foi afastado do nosso mundo objetivo.

24 A influência dos espíritos é aceita nas culturas primitivas, mas para o civilizado é duro admitir que seus males são fruto da imaginação. Dado o fenômeno primitivo da obsessão não desapareceu; é o mesmo de sempre. Apenas é interpretado de maneira diversa e mais desagradável” (p.47].

25 21. Os sonhos trazem idéias/imagens análogas a mitos e ritos primitivos (Freud: resíduos arcaicos). São o elo de ligação entre o mundo racional da consciência e o mundo instintivo.

26 22. Função do sonho: Tentar restabelecer a balança psicológica, reconstruindo, com material onírico, o equilíbrio psíquico total.

27 Função compensatória dos sonhos na nossa constituição psíquica.

28 22. “Não podemos nos permitir nenhuma ingenuidade no estudo dos sonhos. Eles têm sua origem em um espírito que (não?] é bem humano, e sim um sopro da natureza – o espírito de uma deusa bela e generosa, mas também cruel” (p.51].

29 23. Esse espírito do sonho está mais de acordo com os mitos antigos que com a consciência do homem moderno, que evolui à custa de grandes perdas: separando a consciência das camadas instintivas profundas e das bases somáticas do fenômeno psíquico.

30 24. “Os símbolos oníricos são os mensageiros indispensáveis à parte instintiva da mente humana para a sua parte racional” (p.52].

31 Se o sonho melhora ou piora o humor, foi compreendido subliminarmente.

32 Nenhum símbolo onírico pode ser separado da pessoa que o sonhou.

4 1.D. A análise dos sonhos.


33 Existem pensamentos e sentimentos simbólicos, situações e atos simbólicos. Ninguém pode inventar deliberadamente um símbolo, só um sinal/signo.

34 Alguns símbolos têm natureza e origem coletiva, sobretudo as imagens religiosas.

5 1.E. O problema dos tipos.

35 Os sonhos pedem tratamento individual mas algumas generalizações são necessárias para fim científicos.

36 O que análise dos sonhos conduz a confronto entre dois indivíduos, fazendo grande diferença possuírem o mesmo tipo de personalidade.

37 A bússola da psique.

38 DESENHO

39 Sentimento = capacidade de pensar e avaliar a experiência (julgá-la boa ou m, agradável ou desagradável ) sem precisar analisar o raciocinar o porquê.

40 Trata-se de apreciação, julgamento de valores, não é uma emoção, mas tem uma função racional, organizadora.

41 A impressão é uma função irracional, perceptiva, uma percepção sensorial.

42 Os 4 tipos fundamentais da bússola são 4 formas evidentes pelas quais a consciência se orienta em relação à experiência.

43 A sensação nos diz que algo existe, isto é, a percepção sensorial. O pensamento mostra o que é a coisa; o sentimento diz se ela é agradável ou não; a intuição diz de onde ela vem e para onde vai.

44 Freud diz que o sonho é o guardião do sono. Mas os sonhos freqüentemente perturbam o sono.

45 O que Freud considerava o disfarce do sonho na verdade é a forma que os impulsos formam naturalmente no inconsciente. Um sonho não é capaz de produzir um pensamento.

46 É pelos sonhos, intuições e impulsos que as forças instintivas influenciam a atividade da consciência. A influência é boa ou má dependendo do conteúdo do individuo. Se contiver muitas coisas que deveriam ser conscientes, mas foram relegadas ao inconsciente por repressão ou negligência, elas recobrirão a psique individual normal e distorcerão sua tendência natural para expressar símbolos e motivos fundamentais. A função dos sonhos e intuições torna-se deformada e perturbada (p.64].

6 1.F. O arquétipo no simbolismo do sonho.


47 O arquétipo (ou imagem primordial) não expressa imagens ou motivos mitológicos definidos, que são representações consciências e que podem ter inúmeras variações de detalhes sem perder sua configuração original.

48 O arquétipo é uma tendência instintiva para formar as mesmas representações de um motivo.

49 O instinto é impulso fisiológico percebido pelos sentidos.

50 Mas os instintos podem se manifestar como fantasias e revelar-se através de imagens simbólicas.

51 Essas manifestações são os arquétipos (p.69].

52 Assim como nossos pensamentos conscientes muitas vezes se ocupam do futuro e suas possibilidades, o mesmo ocorre com o inconsciente e os sonhos (p.78].

53 O inconsciente tem capacidade de examinar e concluir, assim como a consciência pode mesmo antecipar as conseqüências de fatos, precisamente porque não estamos conscientes deles.

54 41. Arquétipos criam mitos, religiões e filosofias.

55 Complexos pessoais: Compensações de atitudes unilaterais ou censuráveis de nossa consciência.

56 Mitos de natureza religiosa são espécie de terapia mental generalizada contra os males que afligem a humanidade (fome e guerra, velhice e morte) (p.79].

57 O culto do herói prende a audiência num clima de emoções numinosas que exaltam o indivíduo até sua identificação com o herói (p.79].

58 Mistérios de Elêusis (extintos no séc. VI d.c.) junto com o oráculo de Delfos expressava não (? conferir!) a essência e o espírito da antiga Grécia.

59 A era cristã deve seu nome e significação ao velho mistério do homem-deus com raízes no muito arquetípico de Osíris.

Osíris, juiz dos mortos


60 Somos conduzidos por forças interiores e estímulos exteriores. As forças interiores procedem de uma fonte profunda que não é alimentada pela consciência nem está sob seu controle. Na mitologia chamavam a essa fonte mana, os espíritos, demônios e deuses.

61 Recusamos admitir que dependemos de forças que fogem ao nosso controle.

62 “‘Querer é poder’ é a superstição do homem moderno” (p.82]. O preço dessa crença é a total falta de introspecção.

7 1.G. A alma do homem.


63 Os instintos não desapareceram, mas perderam contato com a consciência e têm de afirmar-se de maneira indireta, através de sintomas físicos (neurose), humores inexplicáveis, esquecimentos inesperados e lapsos de palavra (p.83].

64 O homem gosta de achar que é dono de sua alma mas não será enquanto não for capaz de controlar seus humores e emoções, ou de tornar-se consciente de como o inconsciente interfere nas suas decisões.

65 O indivíduo moderno, para não ver a cisão do seu ser, protege-se com um sistema de compartimentos. Conservando em gavetas separadas aspectos de sua vida que não podem ser confrontados com outros (.p.83]. Psicologia dos compartimentos.

66 A triste verdade é que a vida do homem consiste de um complexo de fatores antagônicos inexoráveis.

67 Só o homem moderno acha que pode prescindir de idéias sobre um ser supremo e a terra do “depois” (p.87], mas lamenta-se por ter perdido suas convicções.

68 O homem precisa de idéias e convicções gerais que lhe dêem sentido à vida e lhe permitam encontrar seu lugar no mundo. Pode suportar as maiores privações se crê que têm um sentido, mas não quer participar de uma história escrita por um idiota (p.90].

69 O papel dos símbolos religiosos é dar significado à vida do homem.

70 “É uma ilusão comum acreditarmos que o que sabemos hoje é tudo o que poderemos saber sempre. Nada é mais vulnerável do que uma teoria científica...” (p.92].

8 1.H. A função dos símbolos.


71 Símbolos naturais: vêm do conteúdo inconsciente da psique, são variações das imagens arquetípicas essenciais, têm origens arcaicas.

72 Símbolos culturais: expressam “verdades eternas”, são utilizados em religiões, guardam muito de sua magia original (numinosidade). Se reprimidos ou descurados, a sua energia específica vai reviver a e animar o que quer que predomine no inconsciente.

73 Mesmo as tendências que poderiam exercer influência se transformam em demônios quando reprimidas (p.93].

74 O racionalismo destruiu a capacidade do homem para reagir às idéias e símbolos numinosos e o deixou à mercê do seu submundo psíquico.

75 Acontece a nós o mesmo que ocorria há sociedades primitivas quando seus valores e espirituais sofriam o impacto da “sociedade moderna”: o sentido vida desaparece, a organização social se desintegra e os indivíduos entram em decadência moral (p.94].

76 Despejamos todas as coisas do seu mistério e perdemos a identificação emocional inconsciente com os fenômenos naturais; sem a participação mística o homem se sente sozinho no cosmos (p.95].

77 Arquétipos são a um tempo imagem e emoção. Carregada de emoção a imagem ganha numinosidade (energia psíquica) (p.96].

78 A mente, como o embrião, evolui passando por uma série de etapas pré-históricas. Na crença está ativa a psique pré-histórica.

79 Tarefa dos sonhos é trazer de volta reminiscências da pré-história e do mundo infantil.

80 Essas reminiscências podem alargar o campo da consciência se forem assimiladas/integradas na mente consciente (processo de individualização). Mas como não são elementos neutros sua assimilação modifica a personalidade dos indivíduos (p.99].

81 Os símbolos representam tentativas naturais para reconciliação e união dos elementos antagônicos da psique.

82 Pensar e sentir são operação opostas, uma exclui a outra quase automaticamente.

83 A psicologia é a única ciência que tem de levar em conta o fato ‘valor’, isto é, o sentimento, pois ele é o elemento de ligação entre as ocorrências físicas e a vida (p.99].

9 1.I. Curando a dissociação.


84 DESENHO

85 Símbolo da vida, do universo e do homem no antigo Egito.

C 2. OS MITOS ANTIGOS E O HOMEM MODERNO (POR JOSEPH L. HENDERSON)

10 2.A. Os símbolos eternos.


86 O simbolismo do natal é reminiscência da festa do solstício que exprime a esperança do renascimento (fim do universo).

87 A diferença entre o mito cristão e os outros mitos mais antigos, da morte e ressurreição do deus-rei, é que nestes o evento era cíclico.

11 2.B. Heróis e fabricantes de heróis.


88 O mito do Hare é o mais comum e conhecido. Caracteres: a) nascimento humilde mas milagroso; b) provas precoces de força; c) ascensão rápida ao poder; d) luta triunfante contra forças do mal; e) falibilidade ante o orgulho (hybris); f) declínio, por traição ou ato de sacrifício onde morre; g) figuras tutelares (guardiões).

89 Figuras tutelares: Teseu e Podeidon; Perseu e Atenéia; Aquiles e o centauro Quíron; Rei Arthur e o mago Merlin.

90 Os guardiões são representações simbólicas do psíquico total que supre o ego da força que lhe falta.

91 Atribuição essencial do mito heróico é desenvolver no indivíduo a consciência do ego, o conhecimento de suas próprias forças e fraquezas. Aproximar-se da fonte interior de energia que o arquétipo do Hare representa; desenvolver a anima; através do ato heróico libertar-se da mãe..

92 Quando o indivíduo entra na maturidade o papel do Hare perde relevância. A morte do Hare assinala a conquista da maturidade.

93 Os Winnebagos.

94 Cada fase do ciclo do Hare reflete um estágio da evolução da personalidade humana.

95 Ciclo Trickster, vide § 97. Corresponde ao 1° período de vida, primitivo. O Trickster é dominado por seus apetites. Cruel, cínico, insensível. Aparece sob forma de animal mas no final vai ganhando aparência de homem adulto.

96 Ciclo Hare (lebre ou coiote). Aparece como animal. É o fundador da cultura, o transformador, o que doa ou ensina um saber (elixir). O Hare é frágil mas combativo e disposto a se sacrificar pelo seu povo, ou ideal (sacrificar seu caráter infantil a uma evolução futura).

97 Ciclo Red Horn. Pessoa ambígua. Caçula. Herói arquetípico. Derrota monstros com astúcia e força. Tem um guardião/mentor. Representa um mundo arcaico onde são precisos poderes sobre ou deuses tutelares para que o indivíduo vença as forças do mal. No fim o deus tutelar e vai embora e deixe o Red horn com seus filho na terra. Os perigos agora, assim como a felicidade, nascem do próprio homem.

98 Ciclo Twins. Tema da hybris, o orgulho, a inveja dos deuses. Os Twins, de origem semidivina (“filhos do sol”), são homens, e virtualmente uma só pessoa. Separados ao nascer, é preciso reuni-los. Os Twins representam os dois lados da natureza humana. Têm super poderes e acabam sendo vítimas do abuso que deles fazem, suas disputas põem o universo em perigo. Ou morrem, por sacrifício voluntário, ou se conciliam.

99 A morte do herói é a cura necessária para a hybris, o orgulho cego.

100 Os 4 ciclos são a base dos mitos históricos e dos sonhos heróicos.

101 A sombra projetada pela mente consciente do indivíduo contém os aspectos ocultos, reprimidos e desfavoráveis (ou nefandos) da sua personalidade. Não é só o universo consciente, assim como a ego, a sombra tem boas e más características. E a comissão para são indissoluvelmente ligados (como os Twins) mas conflitam na batalha pela libertação.

102 O Hare (o homem primitivo) luta para alcançar a consciência, contra dragões que representam o desejo regressivo da volta ao estado de bem-aventurança da infância, o mundo dominado pela mãe.

103 O Hare tem de entrar em acordo com o poder destrutivo da sombra e dela extrair forças para vencer o Dragão. O ego tem de subjugar/assimilar a sombra antes de triunfar.

104 Anima, o elemento feminino da psique masculina, o “eterno feminino”. Um princípio feminino como complemento de toda atividade masculina.

105 O Labirinto em todas as culturas representa o universo da consciência matriarcal.

106 O salvamento da [Donzela] representa a liberação da anima dos aspectos devoradores da imagem materna. Só quando alcança essa liberação é que o homem consegue relacionar-se bem com uma mulher. Trata-se de libertar a energia psíquico ligada à relação mãe-filho para alcançar um relacionamento adulto com mulheres ou a sociedade em geral.

12 2.C. O arquétipo de iniciação.


107 A criança tem originalmente um sentido completo do self. Depois, enquanto cresce, do self emerge a consciência individualizada do ego.

108 A imagem do Hare é o meio simbólico pelo qual o ego se separa dos arquétipos evocados pela imagem dos pais na 1ª infância.

109 O ego individual aparece na transição da infância para a meninice. Mas essa separação não pode ser absoluta: o ego tem sempre que voltar atrás e restabelecer relações com o self.

110 Na iniciação rompem-se os laços com o mundo infantil e o grupo tem de tornar-se um novo pai ou mãe para o indivíduo a fim de substituir o arquétipo parental original abandonado. Vide §159.

111 O ritual de iniciação envolve sempre uma morte simbólica (identidade temporariamente destruída ou dissolvida no inconsciente coletivo) e um salvamento solene pelo renascimento.

112 m.c.: A identidade original entre mãe e criança equivale à do ego com o self? (p.130]

113 O conflito original entre ego e self se repete em todas as transições; a cada uma o arquétipo do Hare é chamado a defender o ego consciente da morte (dissolução) que se aproxima.

114 Arquétipos de iniciação. Ritos de passagem. Mistérios.

115 Entre os jovens o tema mais comum é a prova de força.

116 Mito do hare: esgota suas forças, alcança o sucesso mesmo que depois seja morto por causa da hybris.

117 Rito da iniciação: o noviço tem de renunciar a toda ambição, aceitar a morte, fazer a prova sem esperar sucesso.

118 (espírito de solidariedade e não apenas heroísmo?) (p.135].

13 2.D. A bela e a fera.


119 Na sociedade moderna as mulheres participam do mito masculino do herói porque têm de desenvolver personalidade forte, e o chamado íntimo à feminilidade é ameaça à emancipação e igualdade.

120 A vida para o homem e para a mulher que teve a mente treinada de maneira masculina, é alguma coisa que se torna de assalto, num ato de força de vontade heróica.

121 A bela é a jovem envolvida numa ligação afetiva com o pai. A encomenda da Rosa branca traz a intenção inconsciente de colocar ao Pai e a ela sob domínio de uma força que expressa bondade e crueldade. Quer se salva de um amor virtuoso que a mantêm numa atitude irreal. Aprendendo a amar a Fera a Bela desperta para o poder do amor humano na sua forma animal, imperfeita e erótica. Tem de aceitar o risco do incesto e conhecer o homem animal, o Trickster, relacionar-se com o homem macaco, humaniza-lo.

122 Enfim, aceitar o princípio duplo da vida natural, simultaneamente cruel e bom.

14 2.E. Orfeu e o filho do homem.


123 86. Culto a Dionísio: ritos orgiásticos. O iniciado tem de abandonar-se à sua natureza animal. O vinho é agente de iniciação do rito de passagem, enfraquece a consciência.

124 87. Substituído pelo culto a Orfeu, porque era muito selvagem. O culto de Orfeu tem em comum com o de Dioniso: Símbolos associados a um homem-deus Andrógino que tem íntima compreensão dos segredos do mundo animal/vegetal.

125 O culto de Orfeu interioriza os êxtases religiosos e sublimam os mistérios de Dionísio.

126 Orfeu é protótipo de Cristo. Personagem real martirizado. Homens intermediários entre a humanidade e o divino.

127 Orfeu comandava a natureza com seu canto. Os animais paravam de brigar para ouvi-lo. Atitude religiosa que soluciona os conflitos porque a alma se volta para o que está situado além dos conflitos. É a primeira encarnação do Bom Pastor.

128 88. Orfeu = semideus de uma religião agrícola, baseada nos deuses da fertilidade. O mito de origem agrícola é vinculado ao ciclo eternamente recomeçado de nascimento, crescimento, morte. Tudo é cíclico como a natureza.

129 Cristo aboliu os mistérios. Sua religião é de fundo patriarcal, nômade e pastoral. Não mais um semideus, mas um Messias totalmente divino. Não mais renascimento, mas ressurreição.

130 O rito de Orfeu é cíclico e subterrâneo; o de cristo é do céu e escatológico (final).

131 89. O homem ainda vive o conflito entre o mito pagão e o cristo, isto é, entre renascimento e ressurreição. /v. Modos diurno e noturno da imaginação/.

132 90. Os mistérios de Elêusis (ritos de adoração das deusas da fertilidade, Deméter e Perséfone) eram também preparação para a morte.

15 2.F. Símbolos de transcendência (149].


133 91. O objetivo fundamental da iniciação é domar a turbulência da natureza jovem (Trickster). A iniciação tem propósito civilizador (espiritual).

134 92. Conflito entre aventura e disciplina, mal e virtude, liberdade e segurança. Ambivalência.

135 93. A iniciação envolve um rito de submissão, depois um período de contenção e depois um de libertação.

136 94. Alguns homens precisam ser provocados, sua iniciação tem a violência do rito de trovão dionisíaco. Outros tem de ser dominados, e a submissão vem da organizada planificação dos templos, religião apolínea.

137 Uma iniciação completa abrange os dois temas.

138 95. Outro tipo de simbolismo refere-se à libertação do homem (ou sua transcendência) de uma forma restritiva de vida para progredir a um estágio superior mais amadurecido de sua evolução.

139 96. A criança, antes do suprimento do ego consciente, possui um sentido de totalidade/integridade.

140 No adulto esse sentido é obtido por uma união do consciente com os conteúdos inconscientes da sua mente. Função transcendente da psique.

141 O homem pode alcançar sua mais elevada finalidade a plena realização das potencialidades do seu self “...valores para criar, e não apenas inventar, um novo padrão de vida".

142 97. Trickster tornou-se um Xamã. Sua mágica e lampejos intuitivos fazem dele um mestre da iniciação. Pode separar-se do corpo e voar sob a forma de um pássaro. Hermes é Trickster no papel de mensageiro, deus das encruzilhadas, que conduz os alunos ao mundo subterrâneo. No Egito era Toth, deus-ibis, forma alada de princípios transcendente. Na Grécia ganha asas e funde no Caduceu as serpentes em coito (fertilidade, mas não só biológica) com o pássaro.

143 98. Símbolo mais freqüente de transcendência/libertação é o tema da jornada solitária ou peregrinação, onde o iniciado descobre a natureza da morte. Geralmente é guiado por um mestre de iniciação, uma figura feminina superior (anima).

144 99. Árvore ou planta antigos simbolizam crescimento e desenvolvimento da vida psíquica, enquanto a vida instintiva é simbolizada por animais.

145 100. Outros símbolos transcendentes: lagartos, Serpentes, Peixes, Patos selvagens, cisnes. Modernamente também aviões e foguetes.

146 101. O símbolo mito (?) comum é a serpente de [Esculápio], a cobra não venenosa que vivia em árvores, uma espécie de mediação entre céu e terra ou 2 serpentes entrelaçadas (vide §97)

147 102. Ctônico = do submundo

D 3. O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO (VIDE §186) POR M.L. VON FRANZ.

16 3.A. A configuração do crescimento psíquico (160)


148 103. Que papel têm os sonhos na vida do indivíduo como um todo? São parte de uma única e grande teia de fatores psicológicos, parecem obedecer a uma certa configuração ou esquema, que é o processo de individuação, um processo lento e imperceptível de crescimento psíquico, que não pode ser realizado por esforço consciente, mas sim por fenômeno involuntário e natural.

149 104. O Self é o centro organizador de onde emana a ação reguladora, é o núcleo atômico do sistema psíquico, o inventor, organizador e fonte das imagens oníricas. O Self é a totalidade absoluta da psique. É o daimon, a alma-ba dos egípcios, o “gênio” dos romanos, o espírito protetor (animal ou fetiche) dos índios, o “grande Homem” (Mista´peo) dos Naskapi.

150 105. O Self aparece de início como uma possibilidade inata. Vai evoluir ou não dependendo de o ouvir suas mensagens. A pesso0a receptiva tem sonhos melhores e mais úteis.

151 106. No processo de individuação há intervenção ativa e criadora de uma força suprapessoal que nos guia de acordo com um desígnio secreto.

152 Esse aspecto criador de Self só age quando o ego abandona todo projeto determinado e ambicioso em benefício de uma forma de vida mais profunda e fundamental, capaz de ouvir atentamente e entregar-se, sem qualquer outro objetivo, ao impulso interior de crescimento, renunciando à atitude utilitarista.

153 107. “Realizar seu destino é o maior empreendimento do homem” (163] e nosso utilitarismo deve aderir às exigências da nossa psique individual. É preciso nos submetermos conscientemente ao poder do indivíduo.

17 3.B. O 1º acesso ao inconsciente (165].


154 108. O Self comanda toda a estruturação da consciência do ego, que é aparentemente uma cópia ou réplica do centro original.

155 109. O processo de individuação é a harmonização do consciente com o centro interior (o núcleo psíquico).

156 Em geral começa infligindo uma lesão à personalidade, acompanhada de sofrimento. Um choque inicial que é um apelo nem sempre reconhecido. O ego sente-se tolhido em suas vontades e projeta essa frustração sem algum objeto externo.

157 Nos mitos geralmente isso é representado pelo Rei doente cuja cura depende de um Talismã único e difícil de encontrar.

158 O encontro inicial com o Self lança uma sombra sobre o futuro e o amigo interior aparece como nosso caçador.

159 110. Só há uma atitude que funciona: voltar-se para as Trevas sem preconceito e tentar descobrir seu objetivo secreto.

160 Algumas vezes aparece de início uma série de verdades amargas sobre o que existe de errado em nós e nossas atitudes consciências.

18 3.C. A realização da sombra (168).


161 111. Necessidade de readaptar a atitude consciente aos fatores inconsciente sonho, aceitando a critica do inconsciente. Isso é realizar a sombra.

162 112. A sombra representa qualidade e atributos desconhecidos ou pouco conhecidos do ego, tendências e impulsos que ele nega em si, mas consegue ver nos outros, particularmente se do mesmo sexo.

163 Nos sonhos e mitos a sombra aparece como uma pessoa do mesmo sexo do sonhador.

164 113. Geralmente a sombra contém valores necessários à nossa consciência mas que existem sob uma forma que torna difícil sua integração.

165 A função da sombra é representar o lado contrário do ego e encarnar os traços de caráter que mais destacamos nos outros.

166 114. Depende de nós a sombra ser amiga ou inimiga. Nem sempre ela é elemento de oposição. É mais como qualquer pessoa com quem temos de nos relacionar, cedendo, resistindo, dando amor. A sombra só se torna hostil quando é ignorada ou incompreendida.

167 115. A sombra tem o poder arrebatador de impulsos irresistíveis, mas que nem sempre tem de ser reprimidos. Às vezes a sombra é tão poderosa porque o Self indica a mesma direção. Resistir aos impulsos da sombra requer esforço sobre-humano e só pode ser feito com auxílio de Self. É difícil saber se os personagens sombrios representam a sombra, o Self ou ambos. Lidar com a sombra, escolher entre ceder ou resistir aos impulsos dela traz dilema ético (176) (m.c.: sérias dúvidas nessa parte).

19 3.D. A anima (177).


168 116. Anima é a personificação de todas as tendências psicológicas femininas na psique masculina: os humores e sentimentos instáveis, as intuições proféticas, a receptividade ao irracional, a capacidade de amar, a sensibilidade à natureza, e o relacionamento com o inconsciente.

169 117. Nas suas manifestações individuais o caráter da anima de um homem é determinado por sua mãe.

170 Se a Mãe teve uma influência negativa, a Anima aparece irritada, depressiva, insegura, suscetível, causando uma apatia, hipocondria, tornando a femme fatale, a Sereia, a lorelei, é perigosa, uma donzela venenosa.

171 Se o homem teve uma experiência positiva com sua mãe poderá tornar-se efeminado, explorado por mulheres, incapaz de enfrentar as dificuldades da vida, sentimental, melindroso, dado a diálogos neuróticos e pseudo intelectuais que impedem o contato do homem com a vida. Ele pensa tanto a respeito da vida que não pode vivê-la com espontaneidade e perde a capacidade de comunicação. É presa da anima do tipo Esfinge ou princesa [Turandot] /v.Puccini, Turandot/, que propõe enigmas insolúveis aos pretendentes.


Édipo e a esfinge. Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/_552Q00S2CAIWEPS4UOLK.jpg



172 118. O lado positivo da anima. É a responsável pela escolha da esposa certa. Quando o espírito lógico do homem não consegue discernir os fatos escondidos o seu inconsciente a anima ajuda a entendê-los. Como um rádio a anima sintoniza o homem com a voz do grande homem (o Self). É Beatriz, a sibila, a Ísis de Apuleio.

173 119. O número 4 /Quatro/ é ligado à anima, que tem 4 estágios no seu desenvolvimento. 1) Eva, o relacionamento puramente instintivo e biológico. 2) Helena, um nível romântico e estético, ainda com elementos sexuais. 3) Virgem Maria, Kwan-Yin, a dama da Lua, Parvati. O amor levado à devoção espiritual. 4) Atena, [Sulamita], [Mona Lisa]. A sapiência superior à pureza e à santidade.

174 120. Para ser guiado pela anima ao seu mundo interior o homem tem de levar a sério os humores, sentimentos, expectativas e fantasias dela e fixá-los numa obra de arte. Isso faz aflorar materiais cada vez mais profundos (186].

175 121. O culto da anima fixado numa santa faz perder seus aspectos individuais. Mas se a consideramos apenas um ser pessoal há i perigo de projetá-la no mundo exterior e só lá conseguir encontrá-lo, o que torna o homem presa de fantasias eróticas ou dependente de uma mulher real (188].

20 3.E. Animus, elementos masculino interior (189].


176 122. O animus não costuma aparecer sob a forma de fantasia erótica, e sim como uma convicção secreta e sagrada. O ego se identifica com eles e fica “possuído” pelo personagem animus. Alienação psíquico, algo de obstinado, frio e totalmente inacessível em uma mulher. O animus nunca aceita exceções. Casulo dos pensamentos oníricos, desejos e julgamentos que definem as coisas como “deviam ser”, afastando a mulher de toda a realidade da vida.

177 123. É o pai que dá ao animus da filha convicções incontestáveis que nada tem a ver com a pessoa real dela.

178 124. Lado negativo do animus aparece como demônio da morte, Hades que rapta Persefone, assaltante, assassino, grupo de homens.

179 125. “Acalentando secretamente essas atitudes destruidoras uma mulher pode levar o marido e os filhos a adoeceram ou morrerem (191].

180 126. Lado positivo do animus pode ser, como a anima do homem, uma ponte para o Self através da atividade criadora. Traz qualidades masculinas como iniciativa, coragem, objetividade.

181 127. Também, tem 4 estágios de desenvolvimento: o homem musculoso; o homem com iniciativa e capacidade de planejamento; o “verbo”, como um professor ou clérigo, e a encarnação do pensamento.

21 3.F. O self – símbolo da totalidade (196].


182 128. “Se uma indivíduo lutou séria e longamente com sua Twins ou seu animus de maneira a não se deixar identificar parcialmente com eles, o inconsciente muda o seu caráter dominante e aparece numa nova forma simbólica. O self, o núcleo mais profundo da psique.

183 129. Símbolos do Self: para a mulher, uma figura feminina superior, Sacerdotisa, feiticeira, Mãe-terra, deusa da natureza. Para o homem, um iniciador masculino, guru, guardião, Velho sábio, Merlin, Hermes.

184 Ou algo simultaneamente novo e velho: um(a) jovem com dons sobrenaturais, uma criança cósmica, o Homem cósmico, Círculo e o Quadrado, o 4 e seus múltiplos, a Pedra, preciosa ou não, a pedra filosofal, o Graal, animais bondosos e prestimosos (indicam a relação do Self com a natureza à sua volta e com o cosmos), o Cristal.

185 130. O Self subsiste além de fluxo da vida de que temos consciência, de onde nasce a nossa noção de tempo. O Self é onipresente, não está totalmente contido na nossa experiência consciente de tempo.

186 131. Homem cósmico, Adão, Gayomart, Purusha, P’anku, Cristo, Krishna, Buda, Anthropos.

187 O grande homem interior age como um redentor que tira o inconsciente do mundo e dos seus sofrimentos para levá-lo de volta à sua esfera original eterna. É o alvo final da vida. O objetivo principal do homem não é comer, beber, etc., mas ser humano.

188 A orientação extrovertida do ego em direção ao mundo exterior há de desaparecer para dar lugar ao homem cósmico. Isso acontece quando o ego se incorpora ao Self. O fluxo discursivo das representações do ego (que vai de um pensamento a outro) e de seus desejos (que correm de um objeto a ouro) acalmam-se quando é encontrado o grande homem interior (203].

189 132. O Self, por ser total e pleno, aparece como um ser bissexual, porque reconcilia os pares conflitantes. Casal divino, real ou emitente. Casal de leões /Leão, animal, Andrógino/.

190 133. “Só ao aceitar o contato humano e o sofrimento é que a alma humana se transforma em um espelho no qual os poderes divinos se reproduzem” (205].

191 134. O Self átomo nuclear da nossa psique está de certo modo interligado ao mundo inteiro tanto interior quanto exteriormente.

192 135. No mundo civilizado a maioria dos sonhos cuida do desenvolvimento pelo ego da atitude interior correta em relação ao Self.

193 Nossa mente consciente cria continuamente a ilusão de um mundo exterior “real”, que bloqueia muitos outros percepções.

194 136.A pedra alquímica é o lápis (210]. Dúvida. O lápis é a matéria prima? Ou a pedra filosofal?

195 137. [Sincronicidade], uma coincidência significativa entre acontecimentos interiores e exteriores que não tem entre si relação causal. Certos tipos de acontecimentos “gostam” de se agrupar em certos momentos.

22 3.G. As relações com o Self (212].


196 138. Tentar dar atenção cotidiana ao Self é como tentar viver simultaneamente em dois mundos diferentes. O Self indica, pelos sonhos e acontecimentos externos que usa para simbolizar suas intenções, a direção para onde se move o fluxo da vida.

197 Está atento às mensagens do Self, sem atenção excessiva ou insuficiente, “como um gato espreitando a toca do rato”.

198 Liberta-se de todas as dúvidas a seu próprio respeito e experimenta uma grande felicidade.

199 139. Razões que fazem o homem perder contato com o Self.

200 Impulso instintivo ou imagem emocional que o domina, leva à unilateralidade e faz perder o equilíbrio (perda da alma).

201 Devaneio excessivo em redor dos complexos, ameaçando a concentração e a continuidade da consciência.

202 Consolidação excessiva da consciência do ego.

203 140. Mandala, Círculo mágico, símbolo do átomo nuclear da psique o círculo representa uma totalidade natural, o Quadrado representa a tomada de consciência dessa realidade. Vide §165.

204 141. Paisagens nos sonhos e na arte representam um estado de espírito inexprimível.

205 142. O lado direito indica o lado onde as coisas se tornam conscientes, o lado da consciência, da adaptação. Esquerda significa a esfera das reações inadaptadas, inconscientes, sinistros.

206 143. ?? Conhecer-se, não remoendo pensamentos e sentimentos subjetivos, mas seguindo as expressões da própria natureza objetiva, como os sonhos e as fantasias genuínos, mais cedo ou mais tarde o Self emerge (215]??

207 144. Lado sombrio e obscuro do Self. Fantasias megalomaníacas ou outras ilusões capazes de possuir o homem, como por exemplo, a de ter resolvido os enigmas cósmicos. Perda do senso de humor e dos contatos humanos.

208 145. O processo de individuação exclui imitações de papagaio, petrificação como copiar a experiência religiosa aos mestres.

23 3.H. O aspecto social do self (218].


209 146. Sensação de que o grande homem quer algo que nós, nos impõe tarefas, nem sempre agradáveis. Reagir positivamente, levar a sério a própria alma, atender ao inconsciente e obedecê-lo, faz um aumentar a interferência constante do inconsciente nos planos conscientes.

210 147. A Criança milagrosa que é símbolo do Self deprime o homem mas é a única coisa capaz de redimi-lo.

211 148. Quem tenta obedecer o inconsciente fica impossibilitado de fazer o que quer e o que os outros querem que ele faça. “Levar o inconsciente a sério é, afinal de contas, uma questão de coragem pessoal e de integridade” (227].

212 149. “Todas as tentativas para reprimir as reações do inconsciente a longo prazo acabam por falhar, já que estão em oposição fundamental aos nossos instintos” (222].

213 150. O Self tende a produzir pequenos grupos criando laços afetivos entre indivíduos, traz também melhor adaptação social.

214 151. O inconsciente tem vivo interesse nas representações religiosas conscientes do indivíduo.

215 152. As doutrinas religiosas oficiais pertencem a arquétipo coletivo (o superego) mas originalmente, há muito tempo, surgiram do inconsciente, uma revelação do inconsciente transmitido a um indivíduo.

216 153. Princípio da indeterminação de Heisenberg destrói a ilusão de se poder compreender uma realidade física absoluta. ??

E 4. O SIMBOLISMO NAS ARTES PLÁSTICAS, POR ANIELA JAFFÉ (230].

24 4.A. Símbolos sagrados: pedra e animal (232].


217 154. A história da religião e da arte estão interligadas desde sempre e até hoje; a fronteira é indefinível e movediça.

218 155. Uso da Pedra como marco ou [Lápide] é forma primitiva de escultura: tentativa de dar a pedra poder expressivo maior do que o oferecido pela natureza. Animação da pedra: projeção de um conteúdo do inconsciente sobre a Pedra.

219 156. Pinturas em Cavernas usadas como alvos (substitutivos do animal) em magia para favorecer a caça. À pintura é considerada a alma do animal. Depois, pinta-se seres semi-humanos disfarçados em animais: demônios, reis dos animais.

220 157. Um chefe primitivo vestido de animal é o espírito do animal, um Demônio iniciador. A Máscara transforma seu portador em imagem arquetípica.

221 158. A Dança originalmente era um complemento do disfarce animal: imitavam os movimentos do Animal.

222 159. No rito de Iniciação o menino toma posse de sua alma animal e sacrifica seu ser animal através da circuncisão; torna-se homem e humano. Antes disso, como ainda não havia sacrificado sua animalidade, era predominantemente animal.

223 160. O motivo animal simboliza a natureza primitiva/instintiva do homem. O animal-demônio simboliza um impulso negativo que escapou ao controle consciente. Reverenciando-se a imagem como sacrifícios e ritos tenta-se apaziguar o impulso.

224 161. É vital para o homem integrar em sua vida o conteúdo psíquico do símbolo, isto é, o instinto. O animal em si não é bom nem mau, é parte da natureza. Mas só o homem é capaz de controlar os instintos, reprimi-los, distorcê-los e feri-los. E um animal ferido é perigoso e selvagem. Instintos reprimidos e feridos são os perigos que rondam o homem: podem tomar conta dele e destruí-lo.

25 4.B. O símbolo do círculo, (240].


225 162. Círculo indica o aspecto mais importante da vida: sua extrema e integral totalização. A unidade, a totalidade, a psique. A unidade da psique, o self.

226 163. As Mandalas tibetanas simbolizam o cosmos na sua relação com os poderes divinos.

227 Desenhos geométricos, [Iantra]s. Triângulos superpostos: união de Shiva e [Shakti], masculino e feminino, opostos, impessoal e pessoal, temporal e intemporal, alma e deus.

228 164. O iantra representa um processo, com tensão entre contrários, caráter erótico, emocional, dinâmico, criação e nascimento da unidade. Já o círculo representa a própria unidade, uma entidade existente.

229 165. Já o Quadrado é símbolo da matéria terrestre, do corpo, da realidade. (vide +140).

230 166. A projeção do conteúdo psíquico na arte é um processo puramente inconsciente, não pode ser inventada.

231 A arte representa o espírito de sua época.

232 Cruz cujo centro se desloca para o alto na idade média. Catedrais verticais, altas /v. Catedral, Catedrais góticas/. Busca da elevação para o mundo espiritual, afastar-se da terra, do mundo, do corpo, inimigos a serem vencidos. Arte gótica, idade média.

233 Na renascença o 5 séculos seguintes: arte realista, sensual, mundo visível com seus esplendores e horrores.

234 167. Arte sensorial, arte do instante que passa, da luz e do ar, reprodução direta da natureza ou assunto.

235 Arte “imaginativa” fantasia ou experiência do artista, de maneira irreal, sonhadora ou abstrata.

236 168. Séc. XX: círculo e quadrado voltam a aparecer, mas expressando o dilema da existência do homem moderno, não há conexão entre eles. A alma do homem perdeu as raízes e está ameaçada de dissociação.

26 4.C. A pintura moderna como símbolo (250].


237 169. Artista é instrumente e interprete do espírito de sua época: dá forma aos valores da época que o forma.

238 170. A ameaça ao triunfo da arte moderna é o degenerar-se em maneirismo e modismo.

239 171. O fascínio negativo ou positivo, irritação e perturbação causados pela arte moderna não vem da sua forma visível aparente. Nada nela lembra ao espectador seu próprio mundo. Ela não o acolhe cordialmente e não lhe faz concessões.

240 O objetivo do artista é expressar sua visão interior do homem, o 2° plano espiritual da vida e do mundo. Novos tipos de linha e com uma língua estrangeira a aprender.

241 172. Dois extremos, a grande abstração e o grande realismo sempre estiveram presentes na arte, mas o 1° expressava-se através do 2°. Agora, têm de seguir caminhos separados.

242 Malevich, 1913, quadrado preto. Extrema abstração. Duchamp, 1914, porta-garrafas, extremo realismo. Cisão psicológica que vem desde a Renascença, conflito entre conhecimento e fé, que foi afastando o homem dos seus fundamentais instintivos, separam natureza e mente, consciência e inconsciente. Essa cisão é o que a arte moderna quer expressar.

27 4.D. A alma secreta das coisas, 253.


243 173. Schwitter, lixo, “catedral para as coisas”. Exaltação mágica do objeto que lembra os alquimistas, para quem a matéria é a essência da terra e deve ser venerada, o objeto precioso será encontrado na matéria mais vil, a matéria tem espírito.

244 Há, aí, na arte moderna como na alquimia, projeção de parte da psique inconsciente sobre os objetos resultando em animação da coisa.

245 O espírito da matéria, a alma das coisas, é o inconsciente. Sempre que o conhecimento racional ou consciente chega a seus limites o homem preenche o inexplicável e o imponderável com os conteúdos do seu inconsciente, como se o projetasse num receptáculo escuro e vazio.

246 [De Chirico], aspecto fantasmagórico das coisas, investigador trágico/místico, influenciado por Nietzsche. Transformar o nenhum sentido da vida em arte, o vazio terrível é a verdadeira beleza imperturbada e sem alma da matéria. Entrou no âmago do dilema existencial do homem moderno, que é o de Morte de deus, a perda do fator supremo que da significação à vida.

247 Marc [Chagall] é a contrapartida, judeu crente otimista, que nunca transpôs totalidade a barreira do inconsciente, sempre manteve um pé na realidade consciente.

248 174. A consciência detem a chave dos valores do inconsciente e só ela pode interpretar suas imagens e reconhecer seu sentido para o homem aqui e agora. Se o inconsciente é ativado e abandonado a si próprio expresso seus conteúdos dominadores e seu lado negativo e destruidor.

249 175. É característico da psicose a consciência e o ego submergirem afogados nos conteúdos do inconsciente.

28 4.E. A fuga da realidade (260].


250 176. A arte dá expressão formal às convicções científicas. Foi atingida pela descoberta do inconsciente e pela física nuclear, que tirou das unidades básicas da matéria seu caráter absolutamente concreto. Há permutabilidade entre massa e energia, onda e partícula. Leis de cansa e feito valem até certo ponto. Relatividades, descontinuidades e paradoxos.

251 Mudança drástica no conceito de realidade.

252 177. Paralelismo entre física nuclear e psicológica do inconsciente. O contínuo espaço – tempo da física e o inconsciente coletivo são aspecto exterior e interior de uma mesma realidade que se esconde atrás das aparências. Há um 2° plano comum entre os dois domínios das aparências, o da física e o da psicologia.

253 178. Esse mundo por detrás do universo da física e da psique tem leis, processos e conteúdos inimagináveis. Por isso o tema da arte moderna é inimaginável, e por isso, ela é abstrata.

254 179. [Kandinsky]. Colapso do átomo. Tudo se tronou instável, inseguro e sem substância. Ciência aniquilada. O artista se afasta do reino da natureza, do populoso 1° plano das coisas. Quebrar o Espelho da vida para contemplar o verdadeiro rosto do ser.

255 Klee: o artista não consegue ver nos produtos da natureza a essência do processo criador. Está mais interessado nas forças formativas que nas formas que elas produzem.

256 180. A arte passa a buscar o espírito da matéria. Uns tentam isso pela transmutação dos objetos – surrealismo, fantasia, imagens oníricas. Outros, os ‘abstratos’, voltam as costas aos objetos e tentam pintar a forma pura.

257 Essa arte, que busca uma certeza interior, um ‘centro da vida’, é misticismo. [Klee]: não se trata de reproduzir o que se vê, mas de tornar visível o que se percebe secretamente.

258 181. O espírito da matéria é terrestre, atômico, o mercúrio duplex, diabo e Lúcifer, oposto ao espírito ‘celeste’. A arte é um misticismo da terra e uma compensação ao cristianismo.

259 O quadro de Pollock é massa confusa, prima matéria, caos, matéria prima da obra alquímica. Significa o nada que é tudo, vem de uma época anterior ao aparecimento da consciência e do ser.

260 182. Quanto mais se dissolve a realidade menos a pintura pode ser simbólica, porque o símbolo é um objeto do mundo conhecido que sugere alguma coisa desconhecida.

261 183. Curiosamente a microfotografia veio provar que algumas das imagens mais abstratas reproduziram inconscientemente a estrutura molecular de elementos da natureza. A abstração pura tornou-se pura concreção.

262 É que as camadas profundas da psique são pura natureza ao mergulhar no inconsciente o artista é menos livre do que pensa, porque fica jungido às leis da natureza.

263 184. A arte moderna expressa o medo, a última etapa do misto agonizante do homem virtuoso do humanismo, a derrota da consciência. Tudo o que já ligou o homem ao universo, à terra, ao tempo, ao espaço à matéria e à vida natural foi rejeitado ou destruído.

F 5. SÍMBOLOS EM UMA ANÁLISE INDIVIDUAL, (274].


264 185. O processo de individuação é simbolizado por uma viagem a terras desconhecidas.

265 Ilha dos mortos e Pensamentos de outono de Böcklin.

266 Lua = poder dominante feminino.

267 Quando o sonhador aparece pessoalmente no sonho representa seu ego consciente. Os outros personagens representam suas qualidades inconscientes mais ou menos conhecidos.

268 Ouvir uma voz no sonho é ocorrência das mais significativas é uma intervenção de Self, um conhecimento que tem suas raízes nos fundamentos coletivos da psique. O que é dito pela voz não pode ser discutido.

269 Sacrificium intellectus. Sacrifício ou rejeição de um pensamento racional.

270 O sonho declara que uma vida não vivida é uma doença de que se pode vir a morrer.

271 (...) expulso do paraíso de uma vida sem compromissos, para onde nunca mais poderia voltar.

272 186. O ego encontra segurança necessária para poder submeter consciente e livremente à sua personalidade arquetípica superior que prenuncia a emergência do Self. Esse fortalecimento do ego e da masculinidade é a 1ª metade do processo de individuação. A 2ª metade é o estabelecimento de uma relação correta entre ego e Self.

G 6. CONCLUSÕES, (305].


273 187. Os símbolos arquetípicos combinam-se no indivíduo seguindo uma estrutura de totalidade, e uma compreensão adequada desses símbolos tem efeito terapêutico.

274 Os arquétipos podem agir como forças criadoras ou destruidoras (estas, quando se consolidam em preconceitos consciências impossibilitam futuras descobertas.

275 188. Nossa idéia de evolução da vida precisa ser revista para substituir a seleção casual pelas mutações significativas (sincronicidade).

276 189. Há relação entre psicologia e microfísica. Os conceitos físicos da física (espaço, tempo, matéria, energia, partícula) foram originalmente idéias intuitivas semimitológicas dos gregos.

277 [Heisenberg]: homem, ao examinar a natureza e o universo, em lugar de procurar e achar qualidades objetivas, “encontra-se a si mesmo”.

278 Na microfísica o observador interfere na experiência de um modo que não pode ser calculado ou eliminado. Não há mais leis, só probabilidades.

279 Assim também cada novo conteúdo que vem do inconsciente é alterado na sua natureza básica ao ser parcialmente integrado na consciência. E cada ampliação da Consciência repercute de forma inexplicável no inconsciente, que só pode ser aproximadamente descrito através de conceitos paradoxais.

280 Jamais saberemos o que é o inconsciente “em si”, como também não saberemos o que é a matéria “em si”.

281 Os Arquétipos são tendências ou probabilidades dominantes.

282 190. Unus mundus: Jung estava convencido de que o indivíduo liga-se de certa maneira à estrutura da matéria inorgânica. Idéia unitária de realidade. Um mundo uno onde matéria e psique ainda não estão discriminadas.

283 Matemática: ciência da estrutura da mente humana. Os números são conexão tangível entre as esferas da matéria e da psique.

Jung
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
INI | ROL | IGC | DSÍ | FDL | NAR | RAO | IRE | GLO | MIT | MET | PHI | PSI | ART | HIS | ???